14 de janeiro de 2019
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62 anos depois viúva de Marques da Silva fala sobre o assassinato do marido

No próximo mês de maio, Maria Vieira Marques da Silva completará 92 anos de idade. Elegante, comunicativa, muito educada e com uma memória invejável, a viúva do deputado estadual José Marques da Silva recebeu, neste domingo (13), a equipe do projeto e documentário audiovisual Raízes de Arapiraca, em sua fazenda, na cidade de Belém, no Agreste alagoano.

Natural da cidade de Pão de Açúcar, Dona Maria Marques falou de sua infância, os estudos em Salvador, onde cursou Farmácia e conheceu o amor de sua vida, o jovem estudante de Medicina José Marques da Silva.

Acompanhada do filho mais velho, o médico Mário Alcino, e dos netos João Pedro Marques e Danielle Marques, Dona Maria Marques também falou do casamento e de sua chegada em Arapiraca, no dia 14 de fevereiro de 1952 para, juntamente com o marido, prestar assistência em saúde aos moradores da cidade e, também, administrar uma das primeiras farmácias da terra de Manoel André.

Lançado no ano passado, com mais de 30 depoimentos inéditos, o projeto de resgate da memória da vida pessoas nativas e antigos moradores da cidade foi idealizado pelo deputado estadual Ricardo Nezinho.

Na entrevista concedida neste domingo, Dona Maria Marques contou que, antes de fixar residência na antiga Praça Gabino Besouro, que anos mais tarde viria se chamar Praça Deputado Marques da Silva, seu marido passou um curto tempo hospedado no Hotel Meridional, de propriedade da Dona Carmelita, que foi uma das primeiras pacientes do jovem médico.

“Ela ficou praticamente curada de uma sinusite e passou espalhar a notícia por toda a cidade”, lembrou Maria Marques, revelando que seu marido era um homem muito generoso e doava a maior parte do estoque de remédios de sua farmácia para pessoas mais carentes naquela época.

“Foi um tempo muito bom. Ele entrou na política a pedido do amigo e senador Rui Palmeira e, no ano de 1954, elegeu-se deputado pela União Democrática Nacional (UDN) com uma grande votação que daria para eleger mais dois deputados”, relembrou.

Bilhetes

Maria Marques disse que seu marido era um político dedicado e um homem muito sensível. Ainda hoje ela guarda as cartas e bilhetes que o deputado escrevia cartas para ela quando terminava as sessões na Assembleia Legislativa, em Maceió.

Naquela época, aumentava a rivalidade entre os grupos políticos e o assassinato do amigo de Marques da Silva, o vereador Benício Alves, no ano de 1956, deixou o jovem deputado ainda mais preocupado com o clima de violência na cidade.

No ano de 1957, Marques da Silva viajou até o Rio de Janeiro, onde entregou ao presidente nacional de seu partido, a UDN, uma carta-denúncia em que relatava que poderia ser vítima de um assassinato.

“Se o ponto final dessa verdadeira tragédia for, como tudo indica, minha eliminação pessoal, desejo, apenas, que minha família sofra com resignação e cuide de meus três filhinhos, a fim de que, mais tarde, eles possam fazer, por Alagoas e pelo Brasil, o que não me foi possível realizar”. Esse foi o trecho mais relevante da carta.

No dia 7 de fevereiro de 1957, quando foi atraído em uma cilada no exercício da sua atividade médica, o deputado estadual José Marques da Silva, a poucos dias de completar 33 anos de idade, foi assassinado com um disparo de arma de fogo, no momento em que retornava à sua residência.

O crime também provocou grande repercussão em Alagoas e em todo o país. “Eu havia ficado órfã de pai aos oito anos de idade, e, um ano antes da morte de meu marido, minha mãe faleceu. Fiquei, portanto, órfã dos meus pais e de meu marido junto com meus três filhos muito crianças naquela época”, disse, emocionada, Dona Maria Marques.

Sem querer tocar mais no assunto, ela declarou que saiu da cidade para Maceió, onde o marido foi sepultado e desde aquele dia não mais retornou para Arapiraca.

“Vivemos muitos momentos felizes, tivemos nossos filhos e uma família muito linda. Essa lembrança que quero manter viva para sempre”, acrescentou Dona Maria Marques, que cedeu para o projeto Raízes de Arapiraca seu rico acervo histórico com fotos, cartas, bilhetes, entre outros documentos pessoais e de seu marido, que ainda hoje guarda com muito carinho em sua fazenda.

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